Estou aqui para comentar e divulgar sobre a Literatura de Berço que acontece na Casa das Rosas na Av. Paulista, nº 37, aqui em São Paulo.
Evento destinado para Mamães de bebês de 3 a 18 meses.
Hoje fui pela 1º vez e gostaria muito de voltar a ir, imagina ir, poder saber um pouco mais sobre autores e suas obras, poder interagir com outras mamães e na companhia do seu filho, fazendo ele se socializar também!
É um local calmo, ambiente totalmente agradável, podemos conversar sobre o autor, sobre nós mesmas, podemos enfim, conhecer outras pessoas de outros lugares mesmo estando em um mesmo mundo, chamado maternidade, legal foi ver também alguns pais presentes. Pena que o meu não pode estar. Mas já vamos ter mais uma Literatura de Berço: Especial Dia dos Pais. Só que eu não tenho certeza se vou poder ir, mas vocês Mamães já podem se inscrever, pois as vagas acabam muito rápido!
Hoje falou-se sobre Machado de Assis, suas obras, seus livros, seu sucesso, nossos filhos ouviram falar de um dos grandes Autores Brasileiros. Podemos dialogar sobre qual a verdade de Dom Casmurro, falamos um pouco sobre sua primeira obra Quincas Borba, entre outros!
Lemos este seguinte texto!
Machado de Assis
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar,
toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por
quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre
que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A
senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu
ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso.
Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor.
Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu
é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que
furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e
mando...
— Também os batedores vão adiante
do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é
que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo
o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou
à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do
pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.
Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor
poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima
no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa
comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando.
Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o
que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava
resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não
se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a
costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa
vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho,
para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de
um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha
para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que
vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da
costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas
um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em
abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de
costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de
melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha
a muita linha ordinária!
Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler -
Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.
Para ver mais fotos do evento, clique aqui, gostaria de ter tirado mais fotos diversificadas e gravado alguma coisa, mas não deu!
Espero que gostem!
Que evento bacana Vivi! E o baby se acabou.. (não mais que a mamãe,claro kkkk) Parabéns por poder ir e "abrir caminho" pra gente contando como foi.
ResponderExcluirNunca tinha lido esse texto dele...
Amei!