quarta-feira, 23 de julho de 2014

Literatura de Berço: Machado de Assis

Olá Mamães!!!

Estou aqui para comentar e divulgar sobre a Literatura de Berço que acontece na Casa das Rosas na Av. Paulista, nº 37, aqui em São Paulo.
Evento destinado para Mamães de bebês de 3 a 18 meses.
Hoje fui pela 1º vez e gostaria muito de voltar a ir, imagina ir, poder saber um pouco mais sobre autores e suas obras, poder interagir com outras mamães e na companhia do seu filho, fazendo ele se socializar também!
É um local calmo, ambiente totalmente agradável, podemos conversar sobre o autor, sobre nós mesmas, podemos enfim, conhecer outras pessoas de outros lugares mesmo estando em um mesmo mundo, chamado maternidade, legal foi ver também alguns pais presentes. Pena que o meu não pode estar. Mas já vamos ter mais uma Literatura de Berço: Especial Dia dos Pais. Só que eu não tenho certeza se vou poder ir, mas vocês Mamães já podem se inscrever, pois as vagas acabam muito rápido!
Hoje falou-se sobre Machado de Assis, suas obras, seus livros, seu sucesso, nossos filhos ouviram falar de um dos grandes Autores Brasileiros. Podemos dialogar sobre qual a verdade de Dom Casmurro, falamos um pouco sobre sua primeira obra Quincas Borba, entre outros!

Lemos este seguinte texto!

Um Apólogo
Machado de Assis


Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.  Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?  Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: 

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. 

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

  Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.




Para ver mais fotos do evento, clique aqui, gostaria de ter tirado mais fotos diversificadas e gravado alguma coisa, mas não deu!

Espero que gostem!

Um comentário:

  1. Que evento bacana Vivi! E o baby se acabou.. (não mais que a mamãe,claro kkkk) Parabéns por poder ir e "abrir caminho" pra gente contando como foi.
    Nunca tinha lido esse texto dele...
    Amei!

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